América Latina no Século 20

América Latina no Século 20
Reforma e Revolução - no século 20, em plena Guerra Fria, a América Latina foi palco de inúmeras tentativas de alterar a lógica do subdesenvolvimento, vista como área atrasada, alguns dos seus paises vão tentar reverter esse quadro, com movimentos reformistas no capitalismo, através de experiências tipicamente populistas (México e Argentina), ou experiências revolucionárias de caráter socialista (Cuba, Chile e Nicarágua).
O subdesenvolvimento, como característica da América Latina.
A industrialização, como estratégia para superar o subdesenvolvimento.
Década de 30 - colapso do tradicional setor agroexportador - boa parte dos países da América Latina eram meramente países agrário exportadores, assim eles buscariam o desenvolvimento industrial, pois pensavam que a industrialização era parâmetro para o desenvolvimento, porém esse pensamento estava errado, pois embora alguns países tenham passado por essa experiência de industrialização, essa foi tardia e restringida, quando Getúlio chega ao poder em 1930 faz com que o Brasil deixe de ser só um exportador de café e diversifica a sua economia.
O Estado populista como principal agente da “Modernização” - na década de 30 ocorre na América latina um processo de desenvolvimento industrial, por causa da crise de 29, a elite latifundiária entra em crise, com isso não há uma classe dominante, e sim uma crise hegemônica, um “vazio no poder”, assim o Estado que cumpre esse papel, esse Estado é denominado de Populista.
-Nacionalismo - com objetivos anti-imperialistas, pois os governantes desses países tinham consciência que precisariam reduzir a concorrência estrangeira, embora dependessem de investimento internacionais.
-Estímulo à industrialização
-Direitos sociais - aos trabalhadores, afastando movimentos revolucionários de caráter socialista.
-Amortização da luta de classes - o Estado é o grande agente amortizador dessa luta, pois intermedeia os conflitos, concedendo direitos aos trabalhadores e vantagens aos empresários. Estratégia de combate à ameaça comunista, pois diminui a luta de classes e foca no discurso nacionalista, isso é o Corporativismo.
-Autoritarismo - Getúlio, Perón, e os outros governos populistas não tinham uma valorização em relação ao legislativo, achavam que eles deveriam acumular plenos poderes.
*Nessa época, na América latina, existiram 2 vias, reformista e outra revolucionária. Quando Salvador Allende assume o poder no Chile, aos olhos da URSS o Salvador Allende era um líder populista, na verdade ele estava implantando o socialismo no Chile; Fidel Castro ao assumir o poder em Cuba, para os EUA, Fidel era um líder populista, um Caudilho; em 1979, quando os Sandinistas tomam o poder na Nicarágua, e defendem um sistema misto, alguns setores da economia seriam capitalistas outros socialistas, aquilo pros EUA era uma experiência populista; já Perón (Argentina), Getúlio (Brasil), Lázaro Cárdenas (México) eram assumidamente populistas.


A Revolução Mexicana
1821 - independência política e persistência dos problemas sociais - pros índios, mestiços e camponeses não implicou em nenhuma vantagem, pois a estrutura social permaneceu inalterada.
1876-1911 - governo de Porfírio Diaz - apoiado por latifundiários, capital estrangeiro e Igreja Católica - exclusão da imensa massa indígena - o Porfirismo, foi uma ditadura apoiada pelo capital estrangeiro; pelos latifundiários, pois mantém os privilégios desse grupo, e pelo fato do camponês, do mestiço e do indígena serem totalmente dependentes do latifundiário para viver, pois uma das questões mais graves era a do acesso a terra; e pela Igreja Católica, pois no México a Igreja era uma das maiores proprietárias de terra, e havia um ensino de base religiosa, as escolas no México eram prioritariamente católicas e a Igreja firmava ideologicamente essa população. Isso faz com que alguns caudilhos fiquem contra o governo Porfírio Diaz.
Oposição liderada por Francisco Madero - greves operárias / revoltas camponesas - Francisco Madero, um Caudilho*, consegue o apoio de camponeses, índios e mestiços, lidera um movimento e toma o poder, mas não faz reformas para camadas mais baixas da sociedade, isso faz com que 2 lideranças camponesas surjam, Emiliano Zapata e Pancho Villa. Eles lideraram um movimento que desejava a reforma agrária e a concessão de direitos trabalhistas aos homens do campo, esse tinha participação efetiva da população camponesa, porém foi duramente combatido pela elite mexicana com o apoio dos EUA*, pois o governo americano tinha interesse de dominar a região, o governo americano foi tão eficiente que Villa e Zapata foram transformados em bandidos comuns, oferecendo se recompensa a quem os encontrassem.
Apoio camponês ao governo Madero:
-Emiliano Zapata (Sul) - Plano Ayala - proposta de distribuição de terra, de reforma agrária, só acontece no discurso, na pratica não.
-Pancho Villa (Norte) - Reforma Agrária e Legislação Trabalhista
1913 - assassinato de Madero e ascensão de Huerta - representante do imperialismo inglês
1914 - ascensão de Carranza - apoio pelos EUA
1919-1923 - os assassinatos de Pancho Villa e Emiliano Zapata e a perda do conteúdo transformador do movimento - a Revolução Mexicana perde seu conteúdo mais radical, e toma as feições dos movimentos reformistas. Há reforma agrária no México, mas a quantidade de famílias que recebeu terras foi pequena, progressivamente o governo faz reformas populistas, e deixa seu lado transformador camponês de lado, a proposta de promover o desenvolvimento social de camponeses, índios e mestiços foi inacabada.
* Caudilhismo - líderes militares latifundiários, que utilizam um exército próprio, para manipular a massa, derrubar e ocupar o governo. Boa parte dos Caudilhos do século 19 evoluiu para líderes populistas. Embora latifundiários que possuíam exército próprio, não apoiavam o governo, diferente do Coronelismo no Brasil.
* Em 1823 o governo americano cria a Doutrina Monroe, que tem como objetivo submeter à América Latina ao seu domínio, apoiando os movimentos de independência para tentar depois controlar os movimentos, com a alegação da "América para os Americanos", a estratégia para dominar esses territórios, na virada do século 19 para o 20, foi a Política do Big Stick, onde ocorreram intervenções militares.

A Revolução Cubana
1895 - guerra de independência – Cuba, antes colônia da Espanha, deu início a luta de independência em 1895, esta é bem tardia e conta com apoio dos EUA, dentro da Política do Big Stick e da Doutrina Monroe.
1899 - declaração de independência
1901 - imposição da Emenda Platt – exigida pelos EUA por terem apoiado a independência de Cuba:
\Exemplo da Política do "Big Stick" – EUA, polícia internacional do Ocidente.
\Direito de intervenção - invadir Cuba caso os EUA considerassem necessário.
\Construção de uma base militar americana em Guantánamo, Cuba.
Após a independência sucederam-se governos ditatoriais articulados aos interesses imperialistas.
Durante o governo Fulgêncio Batista (1952-1959) ampliou-se as concessões ao imperialismo americano.
26/07/53 - ataque ao Quartel Moncada - estabelecimento da ideologia revolucionária / prisão e exílio de Fidel Castro - Um membro da elite cubana, Fidel Castro, vê que a sociedade cubana estava se degradando e se indigna, sua reação é uma reação nacionalista: reúne um grupo de amigos para atacar um depósito de armas em Cuba, o Quartel de Moncada, pra que com essas armas fizessem um ataque e derrubassem o governo, postura típica de um Caudilho. Durante esse ataque Fidel é preso, e na época estudante de direito se nega a contratar um advogado para defendê-lo, assim ele faz sua própria defesa, então é condenado, e diz que a história o absolveria, e o absolveu, rapidamente organiza uma fuga para o México, lá conhece um médico argentino revolucionário, Ernesto Che Guevara. Fidel chama Che pra derrubar o governo Fulgêncio Batista em Cuba, Che, um líder socialista, convence Fidel que havia uma possibilidade de implantar um modelo de sociedade mais igual, eles partem a Cuba com a ideia de chegar ao lado oposto ao da capital Havana, eles passam por uma tempestade no Caribe e se perdem.
Novembro/56 - retorno de Fidel Castro a Cuba - chegando lá entram em combate com tropas do governo, os 72 homens iniciais, são reduzidos a 12, e a solução encontrada foi adentrar a mata cubana, Sierra Maestra, buscando o apoio da população local, e quando estivessem fortes, derrubariam o governo. Foram 3 anos em Sierra Maestra ganhando o apoio do movimento.
-Refúgio em Sierra Maestra
-Início da Guerrilha
01/01/59 - entrada dos "Barbudos" em Havana, sob liderança de Fidel Castro e Che Guevara - deposição de Fulgêncio Batista - sem ter como reagir Fulgêncio Batista foge para Miami, e Fidel Castro toma o poder.
Impasse no movimento revolucionário: havia um segmento que considerava que Cuba teria um governo liberal-burguês, e o segmento de Fidel, que queria radicalizar, e criar em Cuba um governo comprometido aos interesses nacionalistas cubanos, contrário aos interesses imperialistas americanos.
Tendência Liberal-Burguesa (Urrutia) X Tendência Radical-Popular (Fidel)
A impossibilidade para concretizar uma revolução nacional em um país periférico e o conflito com os interesses imperialismo dos EUA levaram à radicalização do movimento - Fidel opta pela radicalização em relação aos interesses americanos, nos primeiros momentos após a revolução ele toma medidas radicais.
Ex: Reforma Agrária (Granja Del Pablo) - sem indenização.
Fuzilamento dos opositores (El Paredón)
Nacionalização de empresas estrangeiras - sem indenização.
1961 - reação do governo John Kennedy:
-Tentativa de Invasão à Baía dos Porcos - proclamação do conteúdo socialista da revolução; aproximação com a URSS - o governo americano financia e treina um grupo de guerrilheiros cubanos, anticastristas para atacar Cuba e acabar com a revolução, porém fracassa. Fidel percebendo que deveria se aproximar da URSS, proclama o caráter socialista; durante muito tempo a URSS garante a saúde da economia cubana, e banca o socialismo em Cuba, sendo a principal fornecedora de petróleo e de tecnologias.
-Campanha de alfabetização - Fidel incentiva uma grande campanha de alfabetização em Cuba, que rapidamente erradica o analfabetismo, dá aos alfabetizados o dever de alfabetizar as pessoas a sua volta.
1962 - imposição do bloqueio econômico pelos EUA - expulsão da OEA - Crise dos Mísseis - como Cuba era uma ilha, se ficasse privada ao comércio dos EUA e dos parceiros a economia cubana entraria em colapso e acabaria, boa parte do heroísmo no discurso de Fidel sobre a Revolução Cubana, se deve a luta em relação ao bloqueio dos EUA, muitos diziam que a revolução não ia superar o bloqueio, mas superou devido a parceria da URSS. Porém o bloqueio criou sérias dificuldades pros Cubanos, sobre tudo a respeito da inovação tecnológica, um dos dilemas da revolução diz a respeito da defasagem tecnológica de Cuba. Cuba é expulsa da Organização dos Estados Americanos. O governo da URSS faz uma parceria com Cuba pra fazer uma base de mísseis lá, isso coloca o território americano em risco, JFK decreta o bloqueio naval, em que os EUA afundariam as embarcações que passassem de um limite até Cuba, o governante soviético recua e em contrapartida os EUA se comprometem a não invadir Cuba, isso foi a Crise dos Mísseis.
1967 - criação da OLAS - Organização Latino Americana de Solidariedade, idealizada por Che Guevara com objetivo de apoiar qualquer movimento na América Latina a favor do socialismo, contra o imperialismo americano. Vários dos participantes do movimento guerrilheiro no Brasil fizeram treinamento em Cuba, pois Cuba considerava que se eles tomassem o poder no Brasil poderiam ampliar o bloco socialista na região, também apóiam os governos socialistas na Angola e em Moçambique.
1976 - 1980 - durante o governo Carter a tensão entre EUA e Cuba foi reduzida - esse período, entre a imposição do bloqueio americano e a década de 1980, apesar das dificuldades, fruto do bloqueio, a revolução teve seu período de maior esplendor. Cuba representava oposição ao imperialismo americano. A revolução realiza alterações no campo da educação e da saúde, que provocavam um tremendo impacto no caráter subdesenvolvido da América Latina, apesar de todas as dificuldades estruturais, Cuba erradica o analfabetismo, reduz a mortalidade infantil. Em parte o socialismo cubano impressionava, para muita gente, a sociedade ideal na América Latina era cubana.O triunfo do socialismo cubano pode ser atribuído a URSS.
Durante o governo Reagan (1981-1989), o "Aquecimento" da Guerra Fria provocou um endurecimento do bloqueio (Documento de Santa Fé) - na década de 1980 quando o presidente Reagan assume o governo dos EUA, a Guerra Fria é restabelecida, pois no início da década de 1980 o socialismo na URSS dava sinais de falência, e a Revolução Cubana começava a se degradar, porém Reagan considerava que o socialismo em Cuba deveria ser combatido, assim reforça o bloqueio econômico a Cuba. A indústria bélica foi o motor da economia americana. Em 1979, a Nicarágua faz uma revolução e vira socialista, o medo dos EUA era de que houvesse uma onda revolucionária na América Latina.
Final dos anos 80 / início da década de 90 - a Perestroika e a crise do socialismo no Leste Europeu, com a implosão da URSS levaram ao isolamento de Cuba e à degradação das conquistas sociais - os analistas políticos dizem que a Revolução Cubana não ia sobreviver ao fim da URSS, porém Fidel reafirma que a revolução continuava firme, porém a sociedade cubana estava se degradando, todas as conquistas ficam comprometidas, pois Cuba tinha deficiências estruturais, como exemplo, a energia era algo caríssimo.
*O segmento de população cubana que vivia em Cuba antes da revolução envelheceu e morreu, a população hoje é formada por pessoas que nasceram depois da revolução e que se habituaram a ter moradia, saúde e educação por conta do Estado, essas pessoas começam a questionar a modernidade em Cuba, Fidel encontra como saída abrir Cuba para economia de mercado, tendo como principal fator impulsionador a indústria do turismo, quem trabalhava com turismo em Cuba recebia em dólar, isso faz com que o governo não possa desvalorizar o dólar em Cuba.

A Experiência Socialista Chilena
1970 - vitória de Salvador Allende (Unidade Popular-aliança entre cristãos de esquerda, socialistas e comunistas) nas eleições presidenciais - Salvador Allende chega a presidência do Chile com o programa de governo assumidamente socialista. Diferentemente da URSS, Cuba, China, Moçambique e Angola, o socialismo no Chile foi implantado através de uma via democrática, através do voto de sua população.
Adotou, democraticamente, inúmeras medidas de caráter socialista - URSS, China, e Cuba, medidas socializantes implantadas mediante decreto, no Chile quando Allende assume o poder, todas as medidas socialistas são implantadas democraticamente a partir da aprovação do Congresso, que também tinha partidos de oposição. As medidas: Reforma Agrária, aumento salarial, combate à inflação e nacionalização do cobre - o Chile continuava sendo um país de economia periférica e dependente, pois a base da economia chilena era a exportação de cobre, que tinha como principal consumidor os EUA.
Reação do governo dos EUA - ações golpistas articuladas pela CIA - quando Allende nacionaliza a Anaconda, principal mina de cobre do mundo; os EUA, através da CIA, inviabilizam essa experiência socialista, promovendo greves e atentados no Chile, tudo isso pra desestabilizar a sociedade chilena.
-1972 - eclosão de uma greve de proprietários de caminhões patrocinada pela CIA - a CIA incita caminhoneiros chilenos a fazer greve, alegando que o governo Allende iria estatizar o setor de transportes, isso gera uma crise no meio rural e no urbano, pois o produtor rural não tem seu produto transportado para cidade, assim estraga, e a população se vê prejudicada, pois os gêneros agrícolas não chegam à cidade, assim os que tinham no mercado, aumentam de preço.
Apesar das ações desenvolvidas pela CIA para desestabilizar o governo Allende, a Unidade Popular foi vitoriosa nas eleições realizadas em março de 1973 para Allende continuar com a reformas.
As articulações golpistas levaram a uma divisão entre os grupos que formavam a Unidade Popular - defesa da radicalização do movimento - alguns grupos da Unidade Popular, como o MIR, queriam que o governo Allende radicalizasse o processo democrático muito lento, porém ele insiste que seu governo era democrático e faria as reformas de caráter socialista de acordo com a opção dos representantes chilenos.
Junho/1973 - uma tentativa golpista de militares foi sufocada pelo exército - militares da marinha chilena articulam um golpe para derrubar o governo Allende, esse golpe é sufocado por um membro do exército chileno, o General Augusto Pinochet, essa tentativa golpista gera uma discussão, alguns setores da Unidade Popular defendiam que Allende fizesse um projeto de lei permitindo que a população chilena se armasse, para defender o governo do golpe, mas ele alega que era desnecessário, pois o exército chileno era legalista (defendia o governo constitucionalmente instituído) e ele tinha uma pessoa de sua confiança, que era o líder desse exército, o General Augusto Pinochet.
Allende ampliou o poder de ação do exército chileno - Allende reforça o exército chileno, para este sustentar o governo em caso de golpe, mas Allende errou em confiar em Pinochet, e seu maior erro foi considerar que o exército chileno podia atuar para desarmar a população chilena, vários sindicatos e partidos de esquerda tiveram suas sedes invadidas em busca de armas.
11 setembro 1973 - ataque ao Palácio La Moneda - ação golpista dos militares, carabineiros, PDC, CIA, OPUS DEI, imprensa... – com o Chile sendo palco de protestos e greves, o Partido Democrata Cristão, o exército chileno, os carabineiros do Chile (polícia), setores da imprensa chilena e a OPIS DEI (facção radical da Igreja Católica ultrareacionária), se reúnem para tramar um golpe para depor o governo Allende, chamam Pinochet e perguntam se ele estava ao lado deles, para ser líder desse golpe e governar o país depois do golpe, Pinochet vendo quem participava dessa revolução, aceita, e no dia seguinte a sede do governo chileno, o Palácio La Moneda, sede do governo chileno, é atacado por forças golpistas.
-Suicídio de Allende e ascensão de Pinochet ao poder – ditadura - Salvador Allende dentro desse palácio com medo de ser preso e torturado opta pelo suicídio, Augusto Pinochet dá o golpe e implanta uma das ditaduras mais violentas da América do Sul.

O Peronismo - quando se fala em lideranças carismáticas, populistas, na América Latina, alguns nomes despontam, Getúlio Vargas(Trabalhismo), e Juan Domingo Perón (Peronismo ou Justicialismo, no sentido de justiça social, para tentar equilibrar a diferença entre capital e trabalho, burguesia e proletariado). O maior nome do Peronismo não foi o presidente Juan Domingo Perón, foi sua mulher, Eva Duarte Perón, conhecida como Evita, “A Madonna dos descamisados", o maior ícone do populismo argentino, a ponto de ser reconhecida pela população argentina como uma santa, apesar de reconhecidamente ter simpatia pelo nazismo e abrigar refugiados nazistas na Argentina.
1946 - ascensão de Perón ao poder - Juan Domingo Perón, um coronel do exército nomeado Secretário de Trabalho e Previdência Social, quando participa do movimento político que assume o poder em 1943, a partir desse cargo cria sua base de sustentação política principal, os sindicatos, exercendo um enorme controle sobre estes, apoiado em lideranças sindicais e concessões de direitos trabalhistas, com o passar do tempo seguiam as determinações de Perón. Em 1946, através de um golpe, Perón assume o poder.
-As principais bases de sustentação do seu governo foram: exército, sindicatos, Igreja Católica e burguesia industrial. O exército apoiava o governo populista, pois considerava que havia uma necessidade de se opor a tentativa de invasão imperialista, e queria uma política salarial favorável; os sindicatos, que na Argentina funcionavam como uma correia de transmissão do governo, agiam por impulsos governamentais, faziam a política que interessava ao governo, pois Perón exercia um controle sobre a CGT, Confederação Geral do Trabalho (semelhante a CUT, Central Única dos Trabalhadores, no Brasil), uma central sindical, que orientava politicamente vários sindicatos na Argentina; a Igreja Católica, pois Perón matinha a estrutura de boa parte dos países da América Latina, a de nas escolas públicas argentinas ser obrigatório o ensino católico, moldando o pensamento do cidadão argentino; a burguesia industrial o apoiava, pois Perón era nacionalista, que ao criar dificuldades para entrada do capital estrangeiro, favorecia as ações da burguesia nacional, ele também cria uma base para possibilitar o desenvolvimento industrial na Argentina.
-Inspirou-se nas doutrinas católica e fascista - assim como Getúlio, Perón era um político simpático ao fascismo. Ele foi implacável com seus opositores.
Exerceu rígido controle sobre a CGT - concedeu inúmeros direitos aos trabalhadores urbanos - aumento salarial, contrato coletivo de trabalho, previdência social, etc.
-Garantiu o nacionalismo econômico e os encargos sociais do Estado com a criação do IAPI - a estratégia adotada por Perón para promover o desenvolvimento industrial na Argentina foi a criação do Instituto Argentino de Promoção do Intercâmbio, um órgão governamental, que deveria comprar dos produtores argentinos aquilo produzido e negociar diretamente com o mercado internacional, e haveria uma margem de diferença entre o preço que o governo pagou aos produtores, e o que vende ao mercado internacional, assim é que o governo argentino pretendia promover o desenvolvimento industrial.
A crise econômica mundial implicou na redução das exportações, levando o Estado a cortar subsídios industriais, ao mesmo tempo em que a inflação reduziu a popularidade de Perón junto à classe média e ao operariado - no início dos anos 1950 em consequência da herança deixada pela 2ª guerra mundial, o mundo capitalista vive uma crise, que tem como uma das suas características a elevação do processo inflacionário, e essa crise abala as bases do governo Perón na Argentina, pois se o centro do capitalismo estava em crise, presume-se que ele importava menos, a arrecadação dos argentinos diminui, capacidade do investimento do governo no setor industrial reduz, consequentemente reduzem a oferta de emprego e o salário, os reajustes salariais ficam impraticáveis, ou seja, o governo do Perón é duramente criticado pela classe média e pelo proletariado urbano, que não tinham emprego nem renda.
A supressão do ensino religioso nas escolas públicas e a legalização do divórcio levaram ao rompimento entre Igreja e Peronismo - não fazia sentido que tivessem um ensino católico, se recebiam uma população das mais diversas origens, que em contato frequente com os valores católicos poderiam entrar em crise de identidade religiosa ou acabar aderindo ao catolicismo, assim o governo laico, suprime o ensino religioso, mas o que leva a Igreja a romper definitivamente com o Peronismo é a assinatura da Lei do Divórcio, isso nos anos 1950 era algo muito avançado, numa sociedade que o pensamento católico era predominante.
A concessão para exploração de petróleo na Patagônia, a exploração americana, provocou o rompimento entre militares nacionalistas e Perón - passa a ter a oposição da Igreja e dos militares.
1955 – golpe e deposição de Perón - Perón é deposto por um golpe militar, e os governos que sucederam Perón foram governos muitos conservadores, com Perón fora do poder, exilado na Espanha, o Peronismo crescia na Argentina vertiginosamente, a ponto dos argentinos dizerem que a Argentina vivia o fenômeno chamado “o Peronismo sem Perón”, o Partido Justicialista na Argentina, tinha desempenho eleitoral ótimo e conseguia fazer com que a população argentina votasse nulo quando orientavam.
1973 - retorno de Perón ao poder - governo conturbado devido ao pluralismo de vertentes no Peronismo - com 77 anos, após um longo período de “Peronismo sem Perón”, através de uma jogada política em que o candidato Hector Campora, se candidata a presidência da Argentina, intencionalmente como candidato do Peronismo, ganha a eleição e renuncia para que numa jogada política ocorram novas eleições, Perón participe e ganhe, tendo como vice sua nova mulher, Isabelita Perón, denominada assim para lembrar o ”Mito Evita”. O governo americano não aturava mais governos nacionalistas e populistas, o Populismo já não respondia mais aos interesses da burguesia industrial ligada ao capital estrangeiro, pois ela já estava no poder, assim não queria mais fazer composição com outros grupos sociais e não se interessava mais por uma perspectiva nacionalista. Perón então chegava à Argentina com uma oposição violenta a ele. O Peronismo na Argentina vivia um impasse, os peronistas velhos viam que com Perón no poder eles poderiam conseguir cargos e os Peronistas mais novos não eram populistas, eram socialistas, que viam no governo do Perón um caminho para Argentina avançar ao socialismo.
1974 - morte de Perón e ascensão de Isabelita Perón ao poder.
1976 - golpe militar - Isabelita Perón é deposta por um golpe militar, assim o General Jorge Rafael Fidel assume o poder. A ditadura na Argentina tinha duas peculiaridades, a 1ª a existência de uma Copa do Mundo em 1978, curiosamente vencida pela Argentina, e a 2ª questão é por causa da inflação e a falta de investimento por parte dos EUA, a estratégia usada pelos argentinos para dar uma sobrevida à ditadura foi declarar guerra à Inglaterra, a Guerra das Malvinas, luta por uma ilha que ambos declaravam ser sua, criava-se uma situação inusitada na história da América Latina, dos demais países ficar neutros.

A Revolução Sandinista (vem de César A. Sandino, líder do movimento de independência Nicarágua.)
1937 – ascensão da família Somoza ao poder – governo ditatorial, dinástico e submisso aos interesses imperialistas dos EUA.
As principais bases de sustentação do Somozismo eram o apoio dos EUA, o controle da Guarda Nacional e o apoio da burguesia ligada ao capital estrangeiro.
1961 - sob influência da Revolução Cubana, membros da pequena burguesia criam a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN)
-Luta contra o Somozismo – a família de Anastasio Somoza (ditador) continha 80% da Nicarágua.
-Guerra popular prolongada - ocupariam o meio rural, se aproximariam da população camponesa para ganhar o apoio dessa população, e quando esse movimento estivesse forte eles atacariam o meio urbano, para tomar o poder e implantar o socialismo na Nicarágua.
1972 - a Nicarágua foi abalada por um terremoto - sua capital, Manágua, é destruída, e a ONU faz uma campanha para ajudar vítimas desse terremoto, a população mundial doa mantimentos e sangue, o ditador da Nicarágua, Anastasio Somoza, abre uma empresa de venda de sangue doado, assim a situação da Nicarágua é exposta para toda comunidade internacional, com isso a FSLN começa o que chamam de “guerra de baixa intensidade”, guerrilha nos moldes da Revolução Cubana para tomar o poder, com o apoio de vários segmentos da população, a Revolução Sandinista.
1977 - assassinato de Joaquim Chamorro/surgimento do Grupo dos Doze - apoio aos Sandinistas e à Insurreição Armada contra o Somozismo - Joaquim Chamorro, nem socialista, nem guerrilheiro, era um pequeno burguês que fazia oposição a Somoza, e nesse processo de intensificação das criticas à família Somoza, ele é assassinado, isso vira mais um motivo de luta contra o Somozismo. Surge um grupo de notáveis na Nicarágua, de qual participava a FSLN, o Grupo dos Doze, que controlava as ações contra ditadura Somoza, apoiando o projeto da FSLN que era pegar em armas e através de uma guerrilha tirar a família Somoza do poder, essa guerrilha começa de maneira mais contundente em 1977.
Agosto/1978 - os Sandinistas ocuparam o Palácio Nacional de Manágua, sede do governo da Nicarágua.
- Guerra civil - as tropas fiéis a Somoza, a Guarda Nacional resiste, mas a superioridade das forças contrárias à família Somoza determinam a derrota de Somoza nessa guerra civil.
Julho/1979 - fuga de Somoza para os EUA (Miami) e ascensão da FSLN ao poder.
O governo Sandinista teve as seguintes características:
-Apoio de segmentos da Igreja Católica ligados à Teologia da Libertação – ideia de que a Igreja deveria ter um papel maior do que o de evangelizador, deveria ser um instrumento de transformação social, o evangelho deveria ser um instrumento para que os homens conhecessem a realidade e pudessem transformá-la. Essa vertente da Igreja defendia a visão dos pobres e o socialismo, essa teologia se afirma ao mesmo tempo em que João Paulo II é nomeado Papa. O cardeal Ratzinger, o atual Bento XVI, considerando as inspirações marxistas dessa teologia, expulsa todos os teólogos e pessoas ligadas a Teologia da Libertação ou submete-os a voto de silêncio, essas apoiaram o governo socialista na Nicarágua, pegaram em armas e participaram da guerrilha.
-Adoção de um sistema econômico misto - os Sandinistas consideravam que socializar toda economia era um equívoco, pois a estatização de toda economia geraria uma estagnação, segundo eles alguns setores da economia deveriam ficar sob iniciativa privada pra concorrência gerar produção, lucro e competitividade.
-Extinção da Guarda Nacional
-Criação das áreas de propriedade do povo - o governo Sandinista confiscou as propriedades da família Somoza e dos seus aliados e distribuiu para o povo. (Reforma Agrária)
-Nacionalização do comércio exterior e do sistema bancário.
-Cruzada nacional de alfabetização - como todos os governos socialistas que chegam ao poder.
-Convocação de eleições gerais - o Congresso é dissolvido, os sandinistas convocam eleições gerais, e um novo congresso surge na Nicarágua, o governo de Daniel Ortega não governa por decretos, mas sim através da aprovação do Congresso.
O governo dos EUA adotou inúmeras ações para desestabilizar o Regime Sandinista:
-Imposição de um bloqueio econômico - o mesmo procedimento que adotaram em Cuba e no Chile.
-Financiamento, organização e treinamento de grupos contra-revolucionários - durante o governo de Reagan tenta-se recriar a lógica da Guerra Fria, o presidente americano solicita verbas extraordinárias, pro projeto "Guerra nas Estrelas", que criaria uma “barreira” no espaço para impedir um possível ataque de mísseis aos EUA. O presidente pede uma quantia absurdamente alta, primeiramente é negada, depois de justificar que embora a URSS estivesse acabando ela possuía arsenais nucleares que botavam em risco os EUA, o Congresso aprova as verbas, e o governo americano desvia esses recursos para financiar a luta contra a Revolução Islâmica no Irã, e o movimento guerrilheiro contra a Revolução Sandinista. Isso desestabilizou a sociedade nicaraguense, e os Sandinistas tiveram dificuldades de governar.
1985 - condenação dos EUA pela Corte de Haia - corte que julga crimes internacionais e crimes contra a humanidade, condena os EUA pelos atos na Nicarágua durante a Revolução Sandinista. A ONU deveria impor sanções aos EUA, mas por razões óbvias isso não acontece. Em meio à revolução socialista, ao bloqueio imposto pelos EUA e as ações da CIA, a Nicarágua realiza as eleições e os Sandinistas são derrotados por uma candidata patrocinada pelos EUA, Violeta Chamorro.
1990/1994 - os Sandinistas foram derrotados nas eleições presidenciais - em 1990, Daniel Ortega se candidata mais uma vez, e novamente é derrotado isso faz com que a Revolução Sandinista acabe.
* Resumindo Sandinismo: chegaram ao poder através de uma guerrilha, adotaram uma economia mista, sofreram boicote americano, se comprometeram a realizar eleições e foram derrotados nas urnas.

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