A Ditadura Militar (1964-1985)

A Ditadura Militar (1964-1985)
Os golpistas consideravam que um governo autoritário seria capaz de controlar a inflação, combater a corrupção, impedir a expansão comunista e promover o crescimento econômico.
Ditadura com caráter requintado - muito distinta do Estado Novo, essa de 1964 possuía um aparato de disfarce do autoritarismo, faziam questão de dar uma aparência democrática à ditadura.
Responsável pela implantação definitiva de um modelo de capitalismo associado - sob o ponto de vista econômico a ditadura acaba com a disputa entre nacionalistas e entreguistas, e é responsável pela implantação do modelo de capitalismo associado, ou seja, durante os 21 anos de ditadura, o Brasil foi progressivamente se curvando ao capital internacional.
Não houve no Brasil, somente um ditador no poder, houve vários e com prazo de governo previamente determinado, de 4 anos, isso diferenciou a ditadura do Estado Novo, em que só Getúlio governou, esses presidentes eram escolhidos através de eleições indiretas, ou seja, o Congresso elegia o presidente, só generais do exército foram presidentes, não houve ninguém da marinha, da aeronáutica, nem um civil. O primeiro presidente do ciclo militar foi o General Humberto de Alencar Castello Branco.



Castello Branco (1964-1967)
Representante do "Grupo da Sorbonne" - fazia parte de um grupo de militares debochadamente chamado de membros da Sorbonne, defendiam que após um período de ditadura o Brasil voltaria à democracia.
Decretação do AI-1(Ato Institucional) em 09/04/1964
-Nomeação do presidente da República – Castello Branco
-Ampliação dos poderes do presidente - poderia cassar mandatos de deputados e senadores e suspender direitos políticos dos indivíduos por até 10 meses. Várias pessoas que fizeram parte do primeiro escalão do governo Jango foram cassadas.
-Prisões, torturas, cassações... – muitos opositores (incluindo líderes sindicais e camponeses) sofreram prisões arbitrárias (sem informar a causa) e torturas ignorando o direito de habeas corpus que ainda existia.
Idealizou importantes órgãos de controle e repressão, como o SNI, Serviço Nacional de Informação, encarregado de supervisionar as atividades de informação, visando a segurança nacional (Censura).
Decretação do AI-2(1966) - com a vitória de Negrão de Lima no RJ e do Israel Pinheiro em MG, faz com que a ditadura decrete o AI-2.
-Extinção dos partidos políticos - surgimento da ARENA e do MDB - uma das características mais marcantes da ditadura é o bipartidarismo, extinção dos partidos políticos e surgimento de 2 grupos que eram considerados partidos, a ARENA, Aliança Renovadora Nacional, partido identificado com a ditadura, que ao longo da ditadura se transformou em um dos maiores partidos da América do Sul, e o MDB, Movimento Democrático Brasileiro partido da oposição que os militares "aceitavam".
-Eleições indiretas para a presidência - o Congresso elege o presidente.
Crescimento do movimento estudantil
Programa de Ação Econômica do Governo (Paeg) – revogou a Lei de Remessas de Lucros ( incentivando os investimentos estrangeiros, que favoreceram a balança comercial), priorizou o controle das linhas de crédito para o setor privado, a redução dos gastos públicos e a contenção de salários.
-Revogação da Lei de Remessa de Lucros - o governo Castello Branco revoga a Lei de Remessas de Lucros para o exterior, do governo João Goulart, e assim as empresas estrangeiras voltam a remeter até 100% dos seus lucros para o exterior.
Criação do FGTS (1967) - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, criado para acabar com a estabilidade do emprego, antes o trabalhador que completasse 10 anos em uma empresa privada conquistaria estabilidade, assim não poderia mais ser demitido, a não ser por roubo, etc. Pensando em desqualificar o trabalho e privilegiar o capital. Dizem que seria bom para o trabalhador, pois mensalmente o empregador depositava uma porcentagem do seu salário numa conta aberta para o trabalhador, que ao ser demitido ou se aposentar ganharia esse dinheiro, dizem também que em quanto esse dinheiro estivesse parado, seria administrado pelo BNH, Banco Nacional de Habitação, para construção de casas populares, porém esse dinheiro é desviado para a construção de condomínios e de casas luxuosas, descumprindo a lógica do programa.
Decretação do AI-3 (Fevereiro/1966)
-Eleições indiretas para os governos estaduais, prefeituras de capitais, áreas de segurança nacional (definidas pelos militares, onde não queriam que tivessem eleições). Ex: no RJ, Barra Mansa; Volta Redonda, motivo CSN; Duque de Caxias, motivo refinaria de petróleo.
Formação da Frente Ampla - em 1966 deveria acabar o mandato de Castello Branco, os militares prolongam esse mandato e indicam mais um militar para sucessão, o General Arthur Costa e Silva; Lacerda indignado passa para oposição e procura no exílio Jango e JK para formar a Frente Ampla, um bloco contra a ditadura militar, que fracassa, pois seus principais líderes estavam no exílio.
Constituição de 1967 – aumentou o poder do executivo, limitou a autonomia dos Estados (enfraqueceu o Federalismo), promulgou novas leis, como Lei de Imprensa e de Segurança Nacional.

Costa e Silva(1967-1969)
Representante da "Linha Dura" - segmento militar que desejava perpetuar a ditadura.
1968 - manifestações estudantis generalizadas - influenciadas pelos protestos dos estudantes franceses para com o capitalismo francês. Protestam contra o “sucateamento” do ensino público no Brasil, o governo da ditadura tinha um acordo com o governo americano para acabar com o ensino público no Brasil, para que ficássemos dependentes dos EUA em termos políticos e tecnológicos, assim houve o afastamento de alguns professores, diminuição de verbas e o fechamento de alguns cursos. Segmentos da classe média, que apoiaram o golpe, se põem contra a ditadura, pois muitos de seus filhos foram presos, torturados e mortos.
A Passeata dos Cem Mil - no dia 26 de junho de 1968, cerca de cem mil pessoas ocuparam as ruas do centro do Rio de Janeiro, cobrando uma postura do governo frente aos problemas estudantis, dela participaram também intelectuais, artistas, religiosos, grupo de mães de filhos mortos pela ditadura (Édson Luís).
-Greves operárias em Osasco e Contagem - o governo não toma providência e ignora essas greves.
-Os discursos do Deputado do MDB, Márcio Moreira Alves contra as comemorações do 7 de setembro e pela realização da "Operação Lysistrata" - usa a tribuna da Câmara dos deputados para incitar a população a não participar das comemorações do 7 de setembro, Dia da Independência, e diz que as mulheres dos militares deveriam fazer greve de sexo até que a ditadura acabasse, "Operação Lysistrata".
-A oposição do Congresso à retirada da imunidade parlamentar de Márcio Moreira Alves - os militares solicitam que a Câmara tirasse a imunidade parlamentar para ele ser cassado, por atitudes antipatrióticas e comparação das mulheres dos militares a prostitutas, o Congresso vota contra essa retirada, e a resposta dos militares vem com a decretação do AI-5, o ato mais duro da ditadura militar.
13/12/68 - decretação do AI-5 – o presidente ganha direito de fechar o Congresso, cassar mandatos de deputados e senadores, governar através de decreto-lei, estabelecer a censura prévia, possibilidade de o governo censurar previamente várias obras; o toque de recolher, artifício usado pelo governo caso desejasse punir alguém, tinha justificativa; dentre outros...
O afastamento de Costa e Silva por doença e ascensão ao poder de uma Junta Militar – o AI-5 só vai produzir efeitos no governo Médici, pois Costa e Silva é acometido por um AVC e fica impossibilitado de governar, o vice presidente era um civil que apoiava o golpe, Pedro Aleixo, os militares não permitem que ele assuma a presidência, diante disso o poder é assumido por uma Junta Militar, formada por um representante da marinha, um do exército e um da aeronáutica, até que o Congresso reabre para eleger um substituto para Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, a partir daí ele fica aberto por uma das características do governo militar era manter uma aparência democrática, essa Junta também promulgou uma Constituição em 1969, somente para incorporar os Atos Institucionais...

Médici (1969-1974)
Período de intensificação do autoritarismo e da repressão – reflexo direto do AI-5, quando muitas pessoas foram presas, torturadas e desaparecidas. Com a generalização das cassações, muitos políticos foram cassados, muitos funcionários públicos perderam seus direitos, Ex:JK foi cassado por “estimular a desordem”; FHC, que era professor da USP, foi cassado, perdeu direitos políticos, não podia votar nem se candidatar e perdeu o emprego, isso demonstrou o maior fechamento do regime.
Notável crescimento econômico: “Milagre Econômico Brasileiro” - empréstimos internacionais, arrocho salarial e repressão política – notável crescimento da economia brasileira, com taxas semelhantes as dos países desenvolvidos, na verdade quanto mais a economia brasileira crescia, mais o Brasil se endividava, pois as principais bases do “milagre” eram os empréstimos internacionais e o arroxo salarial. Pagava-se baixos salários aos trabalhadores, o salário mínimo chegou a atingir índices abaixo do necessário para comprar a cesta básica, embora o trabalhador brasileiro ganhasse mal, as frentes de trabalho no Brasil se multiplicavam, assim ele amplia a jornada de trabalho, isso era interessante para o empregador, pois ao invés de ter 2 empregados, tinha um fazendo hora extra, nesse período os acidentes de trabalham se multiplicaram.
Exaltação Nacionalista – criação de Slogans Ufanistas – propaganda da ditadura dizendo que o Brasil se tornaria uma potência mundial. Os militares criaram um conceito de “Brasil, país em via de desenvolvimento”, “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Os ideólogos do regime diziam que todos os países tinham uma característica ligada ao desenvolvimento, e o do Brasil era o melhor futebol, se aproveitaram da vitória do Brasil na Copa de 1970. Nesse governo, também, começam a ser construídas obras gigantescas, denominadas pelo povo como “Obras Faraônicas”, caríssimas, boa parte do dinheiro obtido mediante empréstimos. Ex: Transamazônica, Ponte Rio-Niterói, hidrelétrica de Itaipu.
A intensificação da repressão e opção de segmentos da esquerda pela Luta Armada - vários políticos do MDB foram cassados, isso faz com que um segmento da esquerda perceba que por via democrática não tinha como enfrentar a ditadura, assim optam pela Luta Armada, inspirados no triunfo da Revolução Cubana, queriam derrubar a ditadura e implantar o socialismo no Brasil. Essa guerrilha tinha duas vertentes: a rural, em que revolucionários iam para lugares remotos no Brasil, ganhar o apoio da população camponesa, atingir as cidades e tomar o poder, e a urbana que pretendia obter recursos econômicos para financiar a rural, ex: assaltar bancos e saquear empresários. O primeiro erro desses guerrilheiros era achar que a ditadura não conseguiria monitorá-los nesses lugares remotos, só que os órgãos de informação da ditadura eram aperfeiçoados, os militares desenvolveram uma coisa chamada Operação Condor, acordo entre os governos do Cone Sul, ir para a Argentina, por exemplo, não adiantaria. As Lutas Armadas fracassam, resultando em prisão, morte e repressão, só há um exemplo de Luta Armada que deu certo, feita por Franklin Martins, com a ideia de promover sequestros de embaixadores que viviam no Brasil, sua organização guerrilheira sequestra o embaixador americano, Charles Elbrick, e faz duas exigências: que uma nota fosse lida no Jornal Nacional dizendo que o embaixador foi sequestrado por uma organização guerrilheira que lutava contra a ditadura; e exigiram também a libertação de presos políticos. Porém o objetivo da leitura da nota não é alcançado, pois a população não pegaria em armas para lutar contra ditadura.
Final de 1973 - Crise de Petróleo - restrição dos empréstimos pelos EUA - estagnação de crescimento - Crise do “Milagre” – a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, OPEP, triplica o preço do barril de petróleo, inviabilizando o projeto da ditadura, sendo um ponto divisório da história da ditadura militar no Brasil, pois o principal financiador da ditadura, os EUA, não podem mais emprestar dinheiro pro Brasil, pois precisam de dinheiro para comprar petróleo, o dinheiro que resta para emprestar ao Brasil, vai ser usado pelo Brasil para comprar petróleo em virtude da crise, ou seja, o projeto econômico acaba, o crescimento pára, assim ocorre inflação e desemprego, que gera protestos contra a ditadura. Ao final do governo Médici, os militares têm a certeza de que terão que recriar o projeto da ditadura, que estava esgotado, que o presidente que foi eleito para suceder Médici, General Ernesto Geisel, assume o poder dizendo que iria promover a abertura, lenta, gradual e segura, reconduzindo o país à democracia, isso não passa de uma estratégia dos militares para prolongar a ditadura ao máximo.
Abertura Política e redemocratização

Ernesto Geisel (1974-1979)
Representou o retorno dos “Moderados” ao Poder - Geisel era um dos principais representantes da chamada “Ala Moderada” ou “Sorbonne”, embora moderado, era um ditador.
Aceleração do processo inflacionário – crise
Processo de abertura como mecanismo de manutenção do regime autoritário - Geisel assume o poder dizendo que o compromisso do seu governo era promover um processo de abertura política lenta, gradual e segura, progressivamente reconduzir o Brasil a democracia, isso dá início ao processo de retorno do Brasil ao regime democrático. Na verdade esse discurso de abertura, era uma estratégia do regime para que prolongar a ditadura, em virtude da crise ocorreriam protestos e revoltas, assim a ideia do governo era dizer que não tinha necessidade disso, pois era interesse dos militares reconduzirem o Brasil à lógica democrática, o que conteria as manifestações populares e faria com que a ditadura fosse prolongada. O palanque na posse do Geisel demonstra que o governo dele seria mais um governo ditatorial, estava ao lado dele, Augusto Pinochet, presidente do Chile, um dos piores ditadores da América do Sul nesse período, enquanto a ditadura militar no Brasil teve 300 desaparecidos, no Chile tiveram 30 mil.
Os assassinatos de Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho provocaram uma crise na alta cúpula militar e o desmantelamento dos órgãos de repressão - um jornalista chamado Vladimir Herzog, foi oficialmente preso com motivo de ser membro do partido comunista, porém a razão verdadeira era pelo teor crítico daquilo que escrevia; é levado para Operação Bandeirantes em SP, centro de tortura e repressão, é arduamente torturado, em seguida sua família recebe uma ligação dizendo que ele tinha se suicidado, sua família estranha, pois ele tinha um grande prazer em viver, e há uma foto que mostra seu suicídio, essa foto é o ponto de partida para oposição começar a questionar a versão da ditadura da morte do Herzog, na foto ele tinha “se enforcado” a poucos metros do chão, e com as pernas dobradas, ninguém se enforca dessa maneira, e os legistas da ditadura militar relatam vários hematomas pelo seu corpo. O presidente Geisel ao tomar conhecimento desse episódio, manda apurar os fatos, demite o comandante da divisão do exército de SP, isso cria uma crise na alta hierarquia militar, pois um general, Geisel, havia punido um outro general, o comandante do II Exército, e diante dessa demissão o ministro do exército, General Silvio Frota, representante da ditadura, inconformado com essa demissão, achava uma traição de Geisel, começa a articular um movimento para tirar Geisel do poder. Manuel Fiel Filho, operário confundido com um líder guerrilheiro, é torturado para falar sobre o movimento, mas não tinha o que falar e é torturado até a morte.
-Abertura / cassações / torturas / desaparecimentos – o governo Geisel que falava em abertura política, continuava cassando políticos, torturando e desaparecendo com revolucionários.
-Lei de Segurança Nacional continuava em vigor.
-Lei Falcão (1976) - visto que em 1974 o MDB derrotou a Arena, partido do governo, o governo militar pensa na possibilidade do MDB triunfar novamente nas eleições de 1978, e se o MDB elegesse mais deputados do que a Arena, através do legislativo poderia criar dificuldades para ditadura, assim o governo decreta, em 1976, a Lei Falcão, que dizia que na propaganda eleitoral gratuita só poderiam ser exibidas foto, nome e número do candidato, sem aparecer a proposta, isso despolitizava o processo eleitoral no Brasil, ou seja, a população votaria a partir desses dados, essa ideia do governo era para evitar que os políticos do MDB usassem o horário eleitoral para fazer críticas ditadura, dessa maneira os candidatos da Arena poderiam ter um desempenho melhor.
-Pacote de Abril (1977)
\Fechamento do Congresso
\Ampliação do mandato presidencial para 5 anos
\Criação do “Senador Biônico” - nas eleições de 1978 seria eleito um senador, se o MDB ganhasse a eleição em todos os estados brasileiros ele teria a maioria, porém isso não ocorre, pois no Nordeste a Arena era muito forte, o MDB podia até ganhar a eleição do Senado, porém se não ganhar em todos os estados não tem a maioria, um senador era eleito pelo povo, o outro era eleito por assembléias legislativas estaduais, então os deputados, se reuniam e “elegiam” um senador indicado pelos militares, assim todos Senadores seriam de confiança dos militares, bastava a Arena a ganhar em 2 ou 3 estados para ter maioria no Senado.
31/12/78 – extinção do AI-5 - Geisel veio ao RJ participar da inauguração do Metrô, sem estar concluído, inaugura o Metrô e volta para Brasília, para surpresa de todos, no último dia de seu mandato decreta o fim do AI-5, isso representava que o sucessor de Geisel deveria dar continuidade ao processo de abertura política desse governo. Para que não houvesse um retrocesso nesse caminhamento, Geisel é cuidadoso na escolha de seu sucessor, escolhidos pelos militares moderados para que ele prosseguisse, e a ideia era que ao final do mandato do sucessor de Geisel, o Brasil reencontrasse o rumo democrático, isso era um projeto, a escolha foi de um ex chefe do Serviço Nacional de Informações, SNI, que era o órgão de monitoramento do regime militar, o General João Baptista de Oliveira Figueiredo, o Figueiredo.

Figueiredo (1979-1985) - Enquanto Geisel tinha uma postura imperial, Figueiredo era a imagem do caos; ao ser entrevistado perguntam a Figueiredo qual era a expectativa de seu governo ele diz: “Hei de fazer desse país uma democracia, nem que seja na porrada”; sobre as passeatas, manifestações populares, Figueiredo dizia que preferia o cheiro dos cavalos ao do povo.
Crise social intensa – inflação, greves... - o Brasil começa a entrar num período caótico, a preocupação não era apenas com a ditadura, havia segmentos da sociedade brasileira que tinham uma outra preocupação, a degradação dos salários e da qualidade de vida dos brasileiros, pois o Brasil vivia em inflação.
1979 – anistia e reforma partidária (pluripartidarismo) - a “Anistia Ampla Geral e Irrestrita”, lei que permitia os exilados políticos e cassados a retornar ao Brasil, foi uma medida ousada do governo Figueiredo, pois foi uma proposta de reconduzir o país a democracia. Lentamente, permitiria o retorno ao Brasil dos maiores opositores da ditadura, os aeroportos se tornaram locais de protestos contra ditadura frequentes, com destaque para o retorno de Luiz Carlos Prestes vindo da URSS e o retorno de Leonel Brizola, o principal inimigo do regime militar, voltou intencionalmente numa carreata do Uruguai para o Brasil, para que causasse uma comoção nacional.
1980 – restabelecimento das eleições diretas para os governos estaduais - a ideia de Figueiredo era aprovar um projeto de lei em 1980 que restabelecesse as eleições diretas para os governos estaduais; o governo e os militares sabiam que em 1982, se houvesse eleição o MDB daria “um banho” na Arena, ainda mais porque os exilados políticos que voltaram, vão engrossar as criticas à ditadura, o Ministro da Justiça, Golbery, tem a ideia de promover uma reforma partidária no Brasil que estabelecesse o pluripartidarismo, ou seja, acaba com Arena e MDB, e surge PDS, PMDB, PTB, PDT e PD, o objetivo era que o eleitor não conseguisse diferenciar o que seria Arena e o que seria o MDB. O Brasil tem um partido novo que assumia publicamente que seria um partido preocupado em atender aos interesses dos trabalhadores e implantar o socialismo no Brasil, o PT, os partidos comunistas não eram permitidos. O PT é originário de um movimento grevista ocorrido no ABC paulista onde o sindicato dos metalúrgicos lidera uma série de greves no início do governo Figueiredo, greves por aumento salarial, o líder dessas greves ,Luiz Inácio Lula da Silva, é preso, enquadrado na Lei de Segurança Nacional, mas essas greves trazem um dado novo para o movimento sindical no Brasil; os operários, grevistas, não queriam a intermediação do governo, pois já sabiam a resposta da justiça do trabalho para as greves, as greves seriam consideradas ilegais e os movimentos acabariam. Eles queriam negociar com os ditadores, assim fizeram uma greve, em que Lula faz uma assembléia num estádio de futebol cheio, esse grupo sindical se une a segmentos intelectuais renomados, descontentes com a postura do velho PCB, esses intelectuais se somam a esses operários numa aliança inusitada, se juntando num partido que vai ter uma terceira vertente, formada por membros da Igreja Católica, essa união funda o Partido dos Trabalhadores, o PT, esse partido fundado em 1980 chega ao poder em 2002 elegendo Lula como presidente da república.
O processo de redemocratização conduziu ao “terrorismo de direita” - Diante dessa volta do Brasil a democracia, alguns militares não concordavam com esse retorno, esses militares foram chamados de “terrorismo de direita”, inicialmente sem que a população perceba, bancas de jornal que vendiam publicações de esquerda são incendiadas, as pessoas achavam que eram assaltos comuns. A Ordem dos Advogados do Brasil, a OAB, onde vários advogados tentam encontrar brechas na Constituição para driblar a ditadura, é atacada: um dia a Secretária do presidente da OAB, Dona Lyda, quem abria as correspondências dele, recebe uma correspondência que era uma bomba, Dona Lyda morre, ninguém entende o porquê daquela bomba, alguns meses depois uma outra bomba explode na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, na gaveta de um vereador do PMDB ligado ao partido comunista, um assessor dele chega para trabalhar, abre uma gaveta de uma mesa e uma bomba explode, não há mortos, e sim feridos. No dia 1º de maio de 1980 uma organização ligada ao PCB resolve fazer um protesto no Rio Centro contra ditadura, uma comemoração pelo Dia do Trabalhador, vários expoentes da MPB se apresentariam nesse ato, para atrair a população e fazer discursos contra o regime militar, os militares resolvem colocar bombas no Rio Centro para não criar uma situação desconfortável para eles, algumas coisas são feitas para que esse objetivo fosse alcançado, um comandante da PM recebe ordem para não fazer o policiamento desse evento, um evento de grande porte, boa parte dos artistas famosos estava lá, os militares orientam para que todas as portas fossem fechadas, e mantivessem somente 2 portas para entrar e 2 para sair. Enquanto o show acontecia, 2 militares, uma Sargento e um Capitão, entram no estacionamento do Rio Centro, e quando estão montando a bomba o Sargento com relógio de metal encosta na bomba, a bomba explode, ele morre na hora, e o Capitão, que estava ao lado dele fica com o abdômen destruído, sai do Rio Centro, vai para o hospital Miguel Couto, não morre, os militares rapidamente tiram ele dali e levam para o HCE, nos jornais do dia seguinte mostram na manchete o carro com a bomba todo destruído com o Sargento morto, e a colocação dos militares, que a bomba foi colocada no Rio Centro pelos comunistas, esse caso durou uns 30 anos arquivados por falta de provas. O “terrorismo de direita” também iam explodir o Gasômetro às 18 horas num dia de semana, o militar recebe uma missão, percebe que ia matar muita gente e desiste.
Sargento morto no Rio Centro

A vitória oposicionista nas eleições de 1982 e a intensificação da oposição à ditadura - O Brasil em 1982 teve eleição para governador de estado, deputado estadual, deputado federal, vereador, etc. essa eleições apresentavam um aspecto novo em termos políticos no Brasil, pois vários dos exilados puderam se candidatar a cargos, exemplo o Miguel Arraz, no golpe de 1964 preso por militares, se candidatou ao governo de Pernambuco; Tancredo Neves, eleito governador de MG; a oposição em 1982 ganhou as eleições na maioria dos estados brasileiros; no RJ, Leonel Brizola, um dos principais opositores da ditadura militar, num partido criado por ele, PDT, se candidata a governador, apresar do processo fraudulento, conhecido como o Escândalo da Proconsult, em que nessa época, que ainda havia voto de papel, a cada urna que era apurada, se escrevia o total dos votos num mapa, esses votos eram totalizados numa área eleitoral, posteriormente levados para um centro de processamento de dados, onde o resultado era digitado num computador, o principal adversário de Brizola era Moreira Franco, do PDS, da ditadura, todas as pesquisas e apuração da “boca de urna” apontavam a vitória de Brizola, mas na hora da apuração Moreira Franco vence, ninguém entende, assim é descoberto que o digitador do centro de dados inverteu os votos do Brizola e do Moreira Franco. Brizola ganha as eleições no governo do RJ, a vitória de Brizola talvez fosse a pior derrota da ditadura, pelas condições que Brizola foi vitorioso, consegui eleger o deputado federal mais votado do Brasil, Agnaldo Timóteo, e Mario Juruna, um índio que ao se aproximar de um político gravava sua conversa, é eleito deputado federal também pelo RJ.
1983 – início da “Campanha das Diretas” (Emenda Dante de Oliveira) – realização de inúmeras e grandiosas manifestações populares - Esse governo começa uma luta com o governo federal, assumidamente de oposição a ditadura, a vitória da oposição nas eleições de 1982, faz com que ela considere que havia um momento favorável para se intensificar uma luta para que o sucessor de Figueiredo fosse eleito diretamente, assim em 1983 começa a “Campanha das Diretas”, originalmente a Emenda Dante de Oliveira, a ideia dessa campanha era que comícios supranaturais percorressem o Brasil inteiro para que a população com sua participação sensibilizassem os políticos a aprovar essa Emenda no Congresso, o palanque dessa campanha reunia políticos de partidos distintos, Brizola, Tancredo, Miguel Arraz, Lula, FHC, Luiz Carlos Prestes, todos com o mesmo objetivo. No RJ e em SP essa campanha reuniu 1 milhão de pessoas, apesar dessa intensa mobilização, no dia da votação dessa emenda no Congresso, o general Nilton Cruz, responsável pela segurança de Brasília, recebe a ordem de evacuar a cidade, impedindo que a população brasileira que migrou pra Brasília para pressionar ficasse ali pressionando os congressistas, a Emenda Dante de Oliveira para que fosse aprovado no Congresso, não bastava ser aprovado por maioria simples não, 50% mais 1, teria que ser votada por 2/3 do Congresso, se fosse por maioria simples essa emenda teria sido aprovada, porém os 2/3 não são alcançados, esse envolvimento pleno não correspondeu em termos práticos a votos de deputados, a derrota dessa emenda foi um balde de água fria na participação da população na política, isso significou que o sucessor de Figueiredo seria eleito indiretamente.

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